Meu Amigo Hindu
Último Adeus
É curioso como a
filmografia de Hector Babenco é marcada por produções ou supervalorizadas –
como O Beijo da Mulher Aranha (1985) –
ou subestimadas como é o caso de Meu
Amigo Hindu (Brasil, 2015). No que tange esse último muito se disse que Babenco
não conseguira se manter minimamente distante do envolvimento emocional que
possui com a história que narra sua trajetória pessoal de luta contra o câncer.
Ocorre que, ao contrário do que defendem tais detratores da obra, Babenco
enfrenta o risco de ser autocondescendente e sai dele vitorioso na medida em
que seus problemas de saúde e pessoais jamais são manuseados no intuito de
deixar o espectador penalizado. Neste sentido, o cineasta faz questão de
mostrar o filho e o marido falho que fora o que faz deste um trabalho
extremamente corajoso e sincero, qualidade que acaba por suplantar alguns deslizes
percebidos - principalmente quanto a condução do elenco que além de apresentar
performances deveras inferiores a de Willem Dafoe ainda patina nos diálogos em
inglês marcados por pronúncias e sotaques carregados que não raro prejudicam a
imersão do público.
A bem da verdade a
relação do diretor com a história narrada acarreta um único defeito para o
longa-metragem, qual seja a dificuldade do mesmo em aparar pontas que pouco
acrescentam ao produto final – tal como visto no breve contato dele com o
menino hindu do título. Se de um lado essas gorduras a queimar e as atuações
criticáveis de determinados membros do casting
incomodam, a honestidade alhures mencionada com que Babenco se expõe é
comovente, assim como também é seu amor e respeito incondicional a sétima arte,
aspecto esse em que saltam aos olhos as homenagens a O Sétimo Selo (1957) e Cantando na Chuva (1952) além, principalmente, de seu manifesto desejo
de continuar filmando. Através de Meu
Amigo Hindu Babenco acerta suas contas com a morte, busca exorcizar chagas do
passado, agradece aqueles que ao seu lado estiveram e, acima de tudo, se despede
da plateia e do cinema. Tocante.
Ficha
Técnica
Direção,
Roteiro: Hector Babenco
Fotografia: Mauro Pinheiro Jr
Produção: Marcelo
Torres
Elenco: Selton
Mello, Ary Fontoura, Bárbara Paz, Dalton Vigh, Dan Stulbach, Gilda Nomacce,
Guilherme Weber, Maitê Proença, Maria Fernanda Cândido, Reynaldo Gianecchini, Supla,
Tania Khalill, Tuna Dwek, Willem Dafoe
Montagem: Gustavo
Giani
Trilha
Sonora: Zbigniew Preisner
Estreia
no Brasil: 03.03.2016
Duração: 124 min.
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