Califórnia
Receita Desgastada?
Califórnia (Brasil, 2015) faz de sua
ambientação nos anos 80 uma muleta já que se dependesse do seu pobre roteiro o
filme não se sustentaria. Ou será o contrário?
Califórnia tem seus melhores
momentos quando para de voltar a atenção apenas para cenários, figurinos e
música e, em contrapartida, se dedica a também contar uma história. O roteiro
acabou prejudicado pelo excesso de preocupação demonstrado para com a direção
de arte e trilha musical ou desde sua essência a trama já apresentava falhas e
clichês, daí que a proposta de uma viagem ao passado não passa de uma tentativa
de mitigar defeitos embrionários?
Ante tais
questionamentos, cabe também indagar: será essa revisitação oitentista uma
receita já desgastada? O seriado Stranger
Things, por exemplo, prova que o tal desgaste ainda não é uma realidade.
Com efeito, grande parte do fator responsável pelo êxito da série consiste em
deixar a ambientação de época a serviço da história e não o contrário - não a
toa, as referências desfilam de forma mais fluida na tela, desafiando o
espectador a buscar na memória qual a origem de determinada composição cênica.
Tais méritos faltam a Califórnia, o
que é natural tendo em vista a sensação de que Marina Person primeiro decidiu
utilizar os anos 80 e somente em seguida, junto com os demais roteiristas,
passou a tentar encaixar em tal intervalo histórico um enredo qualquer que,
aliás, por vezes parece saído de um episódio das nacionais Confissões de Adolescente e
Mallhação.
Exceto pelo espaço
dedicado a banda The Cure, nem mesmo a trilha musical consegue sair do óbvio,
na medida em que Person opta por, de maneira, limitada reproduzir hits de grupos como Titãs, Kid Abelha e
Blitz, perdendo, assim, a oportunidade de resgatar clássicos do período já
esquecidos ou não conhecidos pelas novas gerações¹. Neste passo, a inclusão de
‘De Repente, Califórnia’ (Lulu Santos) prima pela obviedade tanto quanto os
caminhos traçados pelos personagens. Desnecessário.
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1.
Eventual
não liberação dos direitos de reprodução seria a única justificativa aceitável
para tal falha.
Ficha
Técnica
Direção: Marina Person
Roteiro: Francisco
Guarnieri, Mariana Veríssimo, Marina Person
Elenco: Amanda Chaptiska,
Amanda Zamora, Caio Blat, Caio Horowicz, Clara Gallo, Cristiano Damasi,
Domingas Person, Eloisa Turini, Francisco Guarnieri, Gilda Nomacce, Giovanni
Gallo, Gustavo Rosa de Moura, Isabella Scherer, Ivo Müller, Joelson Oliveira,
Letícia Fagnani, Livia Gijon, Nathalia Magalhães Vicentim, Paulo Miklos, Pedro
Goifman, Samir Rashid, Virginia Cavendish
Produção: Carmem Maia, Giulia
Setembrino, Gustavo Rosa de Moura, Marina Person
Fotografia: Flora Dias
Montador: Bernardo Barcellos
Trilha Sonora: Henrique Chiurciu
Estreia: 03.12.2015
Duração: 85 min.
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