7 Psicopatas e 1 Shih Tzu



O Absurdo, a Metalinguagem e as Referências

7 Psicopatas e 1 Shih Tzu (Reino Unido, 2012) pode ser compreendido como a união do que de melhor já foi feito por Quentin Tarantino e Guy Ritchie. Num misto de Pulp Fiction e Snatch o longa-metragem faz o espectador lembrar o quão bons foram os cineastas num tempo em que seus nomes não eram sinônimos de grifes mas sim de frescor narrativo.
Não obstante a referência ao estilo de outros diretores, o filme de Martin McDonagh não deve ser encarado como um pastiche, tendo em vista a presença de qualidades que o colocam em posição de destaque em meio aos demais títulos do gênero lançados nos últimos anos.
Dito isso, o absurdo dá a tônica de uma história que flerta constantemente com a metalinguagem¹. Entre seres pitorescos, ambíguos e não raro hilariantes, a obra percorre o caminho de psicopatas unidos através do sequestro de um cãozinho e do bloqueio criativo de um roteirista beberrão (!?!?). Se no papel estas pontas parecem não ter muita conexão, na tela elas são todas vinculadas uma a outra com direito a violência em doses consideráveis e muito, mas muito, humor negro.
Aliás, a sensação que se tem é a de que a mesma diversão experimentada pelo público a partir do longa-metragem fora também provada pelo elenco.  Deveras a vontade, todos os atores entregam performances precisas e ao mesmo tempo relaxadas. Sam Rockwell talvez seja quem mais brilhe com um personagem que não mede esforços para pôr em prática as ideias mais bizarras por ele tidas, ao passo que Colin Farrell, após uma longa temporada, volta a trabalhar sem canastrice, tornando crível o inseguro e alcoólatra escritor que transita perplexo entre tantos assassinos. Tom Waits e Harry Dean Stanton dispõem de breves, porém, inesquecíveis momentos enquanto, respectivamente, um serial killer do bem e um homem obcecado por vingança. Woddy Harrelson, por sua vez, aposta nos certeiros trejeitos de interpretações de outrora para compor um sanguinolento mafioso que surpreendentemente nutre uma dependência afetiva sem tamanho por seu cachorrinho. Por fim, Christopher Walken esbanja sutileza e ironia como um ladrão das antigas fissurado em peiote!
Dizer mais sobre o enredo pode estragar as inúmeras surpresas e reviravoltas do roteiro. Uma coisa, entretanto, pode ser adiantada: por certo a satisfação ao término da sessão será inevitável graças não só as virtudes aqui elencadas como também aos diálogos mais estapafúrdios, no bom sentido, ouvidos desde ... Tarantino e Guy Ritchie?
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1.     Dentro deste contexto, vale frisar a eficiência de um trabalho de edição que em meio a tantas idas e vindas entre os universos real e ficcional da própria trama, não deixa o espectador jamais confuso.

Ficha Técnica

Título Original: Seven Psychopaths

Direção e Roteiro: Martin McDonagh

Produção: Graham Broadbent, Peter Czernin, Martin McDonagh

Elenco: Michael Pitt, Michael Stuhlbarg, Sam Rockwell, Colin Farrell, Abbie Cornish, Christopher Walken, Helena Mattsson, Linda Bright Clay, Harry Dean Stanton, James Hébert, Christopher Gehrman, Christian Barillas, Joseph Lyle Taylor, Kevin Corrigan, Woody Harrelson, Gabourey Sidibe, Zeljko Ivanek, Long Nguyen, Christine Marzano, Frank Alvarez, Tom Waits, Brendan Sexton III, Amanda Mason Warren, John Bishop, Richard Wharton, Olga Kurylenko, Johnny Bolton, Ronnie Gene Blevins, Tai Chan Ngo, Bonny the ShihTzu, Lionel D. Carson, Samantha Cutaran, Kiran Deol, Ryan Driscoll, Sam B. Lorn, Sandy Martin, Ben L. Mitchell, Lourdes Nadres, Jamie Noel, Ante Novakovic, Patrick O'Connor, Andrew Schlessinger, Scott Anthony Simmons, Ricky Titus, Todd Weeks

Fotografia: Ben Davis                             Trilha Sonora: Carter Burwell

Estreia no Brasil: 04.01.2013                 Estreia Mundial: 12.12.2012

Duração: 109 min.

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