Festim Diabólico



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Na Contramão

Fato 1: Recentemente deparei-me com o seguinte comentário: “aos poucos, os grandes cineastas que se mantém produzindo se retiram para um universo próprio, uma cápsula onde convivem com seus mitos e métodos. Seus filmes forçosamente tem de ser compreendidos dentro de sua obra”¹.
Fato 2: Sempre julguei-me andar na contramão daquilo que atine a obra de Alfred Hitchcock, eis que, enquanto filmes como Um Corpo que Cai (Vertigo, 1958) e Festim Diabólico (Rope, 1948) são venerados por qualquer cinéfilo, minha lista de favoritos é composta por títulos menos pomposos e um tanto quanto menos badalados, tais como: Os Pássaros (The Birds, 1963), Marnie – Confissões de uma Ladra (Marnie, 1964) e O Terceiro Tiro (The Trouble With Harry, 1955).
Junção dos Fatos: A análise dos suspenses lançados por Hitchcock, inevitavelmente, leva em consideração o conjunto de técnicas por ele utilizadas  em torno de tal gênero, haja vista a preponderância com que se dedicara ao mesmo  ao longo de sua filmografia - o que, frise-se, não representa qualquer demérito.
Neste sentido, a tensão quase que tangível retratada em produções como Psicose (Psycho,1960) e Os Pássaros parece fazer falta no exemplo específico de Festim Diabólico (EUA, 1948), afinal, a história do casal homossexual que assassina um homem por mero prazer minutos antes do início de uma festa - e, ato contínuo, esconde o cadáver sob a bancada onde o jantar será servido - poderia suscitar a agonia claustrofóbica mostrada em obras posteriores do diretor.
Ok, há de se reconhecer que:
  •  talvez para este longa-metragem Hitchcock estivesse mais interessado em dissecar o aspecto ideológico do comportamento e caráter de personagens adeptos a teoria do homem superior, hipótese essa em que a trama do crime - bem como a revelação de seus autores - seria apenas o mote necessário à abertura de questões filosóficas e/ou existencialistas;
  • em se tratando de um trabalho filmado em “tempo real”, dada a continuidade de seus planos seqüência, Hitchcock demonstra pleno domínio sobre sua arte;
contudo, a despeito de tais ressalvas, resta a impressão de que a toada sisuda e formal desta produção a  distancia de outras obras do diretor, intuito que se deliberado há de ser considerado como uma medida desnecessária, tendo em vista que o cineasta durante toda carreira provou sua capacidade de entreter com inteligência.


1.Alex Antunes in Movie n° 06. São Paulo: Tambor, Março de 2010. p. 48.

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FICHA TÉCNICA
Título Original: Rope
Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Arthur Laurents, Hume Cronyn, Patrick Hamilton
Produção: Alfred Hitchcock, Sidney Bernstein
Elenco: Cedric Hardwicke, Constance Collier, Dick Hogan, Douglas Dick, Edith Evanson, Farley Granger, James Stewart, Joan Chandler, John Dall
Fotografia: Joseph A. Valentine, William Skall
Trilha Sonora: David Buttolph
Duração: 80 min.





























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